Boruto: Naruto Next Generations, o anime que prometia manter o sucesso de seu pai Naruto, nunca conseguiu substituir completamente o legado clássico. Recentemente, foi anunciado que a primeira parte do anime chegará ao final ainda em março e a série entrará em um hiato indefinido até a estreia da parte dois. Embora pareça estranho que o estúdio tenha interrompido a adaptação da obra de Masashi Kishimoto, essa decisão faz sentido quando lembramos de outros casos de sucessos recentes que foram divididos em partes.

A decisão de dividir Boruto em partes já era esperada, especialmente porque o anime estreou com uma cena do protagonista adulto lutando contra um adversário. A série parecia ser uma continuação para mostrar como o protagonista chegou a esse momento crítico. Para quem não conhece, Boruto é o filho mais velho de Naruto e Hinata e é o protagonista da história. Ao contrário do pai, Boruto não tem a ambição de se tornar hokage e deseja apenas um hambúrguer e o apoio de seu pai. Embora exista essa diferença de personalidade, o resto do anime segue uma linha editorial semelhante à história clássica.
Em suas aventuras, Boruto faz parte de um trio inusitado composto por Sarada, filha de Sasuke e Sakura, e Mitsuki, um ser misterioso que vem a ser um “filho” de Orochimaru. O anime é uma sequência quase oportuna, já que todos os personagens se casaram e engravidaram quase simultaneamente, criando um baby boom pós-Quarta Grande Guerra Ninja.
Normalmente, sequências quase oportunistas como Boruto são desenvolvidas por equipes criativas, mas neste caso, o personagem saiu da cabeça do próprio Masashi Kishimoto. O autor ainda desenhou uma história extra para Naruto contando uma aventura de Sarada e também contribuiu com a criação de um longa-metragem marcando a passagem de bastão de pai para filho. Kishimoto queria desenvolver outras coisas e, portanto, entregou seu filho para outras pessoas tomarem conta: na versão em mangá, o roteirista Ukyo Kodachi e o desenhista Mikio Ikemoto ficaram responsáveis pelos capítulos na Shonen Jump (posteriormente na V Jump), enquanto a versão animada ficou a cargo dos diretores Noriyuki Abe e Masayuki Koda.

Após o fracasso de Samurai 8, o mais recente mangá de Kishimoto, o autor de Naruto “retirou” Ukyo Kodachi do trabalho de roteiro e assumiu os textos de Boruto a partir do volume 14. Embora o anime não tenha sido tão bem-sucedido quanto seu antecessor, ainda é uma parte importante do universo Naruto e pode atrair novos fãs para a franquia. Agora, os fãs terão que esperar pelo retorno da segunda parte de Boruto: Naruto Next Generations para continuar acompanhando as aventuras do filho de Naruto.
O anime de Boruto apresenta uma discrepância em relação à sua versão em mangá. Enquanto a versão em mangá apresenta um desenvolvimento mais acelerado, o anime sofre com a inserção excessiva de conteúdos adicionais, o que é uma especialidade do estúdio Pierrot nas últimas décadas. Embora o site Anime Filler List aponte que apenas cerca de 11% dos episódios do anime são fillers, é importante destacar que muitas aventuras que não acrescentam muito ao cânone de Boruto são consideradas canônicas. Além disso, há grandes diferenças entre a história apresentada no anime e no mangá, incluindo a adição de personagens inventados pela equipe do anime, como Denki, um colega de classe de Boruto.
Um aspecto curioso do anime é como a equipe criativa tem se apoiado no pai de Boruto, Naruto, para apelar à nostalgia dos fãs. Já houve arcos em que Boruto conhece Naruto quando criança, bem como grandes combates envolvendo o Hokage da Vila da Folha. Outro exemplo é Sasuke, cujas histórias podem envolver até mesmo lutas contra dinossauros. No entanto, é uma pena que a equipe utilize tanto personagens antigos, já que o elenco de Boruto é carismático o suficiente para sustentar o anime sem precisar da ajuda dos pais.
Existem várias possíveis explicações para o inesperado hiato de Boruto: Naruto Next Generations, mas um dos principais motivos pode ser a estrutura “antiquada” do anime. Assim como One Piece, Boruto é exibido semanalmente, sem interrupções, e seus episódios precisam ser lançados, independentemente de haver ou não história para adaptar. Enquanto isso, o mangá de Boruto é publicado mensalmente na revista V Jump. Desde o início de 2017, o anime é transmitido semanalmente. Como resultado, os roteiristas do anime espremeram a história do mangá até não sobrar mais nada.