Na indústria predatória de Hollywood, segundas chances são raras, e material em desuso é rapidamente descartado. Brendan Fraser, uma das grandes estrelas da virada do milênio, infelizmente caiu na lista de prioridades por uma série de infortúnios. No entanto, ele agarrou sua chance mais recente como se fosse a última.

Em “A Baleia”, Brendan Fraser entrega uma performance surpreendente e vulnerável que redefine seu lugar na lista dos grandes atores do cinema. Seu papel complexo e polêmico é um risco calculado que comprova sua habilidade meticulosa e sutil, relembrando ao público e seus colegas sua presença hipnotizante na tela.
Selecionar cuidadosamente os atores para filmes desafiadores parece ser a especialidade do diretor Darren Aronofsky. Em “A Baleia”, ele aborda temas frequentes em sua filmografia, como religião, fé, sexualidade e relações familiares conflituosas. No entanto, desta vez, ele parece estar mais à vontade ao trabalhar com orçamentos e expectativas mais modestos. Como de costume, o resultado é controverso.
Darren Aronofsky adapta a peça escrita por Samuel D. Hunter em 2012, que também assina o roteiro. Em “A Baleia”, Brendan Fraser interpreta Charlie, um professor de inglês obeso que está confinado em seu apartamento e prisioneiro de seu próprio corpo. Pesando mais de 270 quilos e lutando contra uma compulsão alimentar desenfreada, Charlie sabe que seu tempo é limitado e planeja se reconectar com sua filha, Ellie (Sadie Sink), durante seus últimos dias.
Darren Aronofsky estava ciente de que “A Baleia” seria alvo de críticas, especialmente pela representação de um homem morbidamente obeso. O diretor recebeu sugestões de que deveria ter escalado um ator com o mesmo porte físico do personagem, uma vez que Brendan Fraser precisou trabalhar com próteses e maquiagem. Além disso, algumas críticas apontaram que o filme não demonstrava simpatia e, ao contrário, promovia ainda mais a gordofobia. Aronofsky sabia que a tarefa de lançar o filme seria uma batalha difícil e desafiadora.
“A Baleia” é um drama emocionante e honesto que cativa o público. Embora o diretor por vezes revele suas intenções narrativas de forma mais explícita do que permitir que elas fluam naturalmente com a história, é a performance contida e sutil de Brendan Fraser, aliada ao excelente elenco de apoio, que sustenta o filme. Fraser nunca se permite ser explosivo ou histérico, ancorando a trama com uma atuação convincente e realista.
As consequências do abandono
Charlie, o personagem interpretado por Brendan Fraser em “A Baleia”, não vê sua filha Ellie há oito anos desde que saiu de casa para viver seu romance com um homem mais jovem, assumindo sua homossexualidade. Com sua saúde deteriorando, Charlie sente a urgência em reconstruir pontes com sua filha, mas o filme não o retrata como um mártir. Ao contrário, a trama explora as consequências do abandono na vida de Ellie, agora adolescente, de forma sensível e realista.

Aronofsky é um diretor talentoso, que utiliza o confinamento do pequeno apartamento de Charlie como cenário único para um filme que claramente remete às suas origens teatrais. A sensação de claustrofobia de habitar um corpo cada vez mais frágil e com mobilidade reduzida é habilmente retratada na casa de Charlie, que se torna um microcosmo no qual corpos estranhos são inseridos, nunca se sentindo totalmente à vontade.
A Baleia” desenvolve sua trama através dessas interações. Liz, a enfermeira e única amiga de Charlie (interpretado pela espetacular Hong Chau), tenta levá-lo para o hospital, mas ele se recusa veementemente. Ellie, por sua vez, é pura raiva e revolta, e sua volta ao convívio com o pai traz uma mistura incômoda de sadismo e abuso, que Charlie tenta combater com otimismo quase ingênuo. O texto também apresenta Thomas (interpretado por Ty Simpkins), um missionário que acredita ser o único capaz de “salvar” o professor